domingo, 13 de setembro de 2009

O País dos Doutores...

Hoje dei de caras com um cartaz da CDU na minha freguesia cujo nome da candidata surgia da seguinte forma: “Dr.ª. fulana de tal”. Olhei segunda e terceira vez e imediatamente pensei: “está dado o mote para a minha próxima posta no Aventar”.

O meu Pai, farmacêutico de formação e profissão, tinha por hábito advertir algumas pessoas que o interpelavam por “Senhor Doutor” do facto de não ser esse o seu nome de baptismo. Logo de seguida, ironicamente, explicava o processo de baptismo, etc e tal. Foi com ele que aprendi a não gostar dessa “cagança” tão portuguesa. Mais tarde, quando a idade começou a avançar, comecei a ser tratado em determinados locais pelo mesmo “Senhor Doutor” e lá começava eu a explicar que não era, que não tinha ainda acabado o curso e mesmo que o tivesse, etc e tal. Ao ponto de ter deixado de ser cliente de um determinado restaurante da Maia por causa disso – o fulano, dono do dito, começou a tratar-me por doutor, após lhe dizer que não o era, passei a ser engenheiro e a seguir, arquitecto! Após terminar a licenciatura, começou novamente o massacre. Numa primeira fase expliquei que “Doutor” era o meu médico, depois anunciei que não passava receitas e, por fim, desisti tendo como resultado começar a ficar farto.

Neste país de “doutores” e muito respeitinho, a maralha péla-se por ser tratada pelo “Dr.” e nem vos digo a quantidade de vezes que recebo mails, sobretudo de trabalho, cuja assinatura surge como “fulano de tal, Dr.”, assim mesmo, sem tirar nem pôr, pondo a nu os complexos de inferioridade que habitam no mais estranho dos seres. Mais engraçado e cómico é verificar o deleite de certos não licenciados quando tratados por “Dr.”. Não desmentem a coisa, antes pelo contrário, mesmo quando na presença de conhecedores de tal lapso. Recentemente, numa reunião, assisti a uma cena do género. O sujeito da referência impávido e sereno, até engrossou um pouco a voz adaptando-a ao que julga ser o timbre mais correcto para a qualidade em causa. Após a dita, em pleno elevador, o autor do lapso virou-se para mim, afirmando: “eu sei que o tipo não é doutor mas foi pelo prazer de o ver todo emproado e pelo gozo do caricato da situação”. Nem pestanejei tal a surpresa.

Neste país da “cagança com toda a pujança” já espero tudo mas confesso a minha surpresa ao ver num cartaz da CDU, do partido auto-intitulado “do Povo”, a referência ao título académico. O que diria o saudoso “Zé Barbeiro”, o verdadeiro comunista da Areosa, ao ver uma camarada sua tão preocupada em passar receitas…


Posta originalmente colocada no AVENTAR e à qual acrescento a seguinte nota de rodapé:

Depois de termos (o Aventar) conseguido atingir o Top 100 dos blogues nacionais e de sermos, actualmente, o 69º blogue nacional em visitas (um número que nos deve servir de reflexão), já somos o 20º blogue nacional em visitas diárias entre os blogues “mais” políticos. Tudo em menos de um ano.

É obra!


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