“Fernando Moreira de Sá, do blogue O Sinaleiro da Areosa, diz que aponto o alvo errado, mas deve ter-me lido pouco, senão não falava assim. Todas estas aberrações são de origem política, potenciadas por um centralismo retrógrado que já não faz qualquer sentido em países moderno”.
Caro Rui Valente,
Eu não posso estar mais de acordo consigo em 90% daquilo que afirma. Em especial, quando refere: Todas estas aberrações são de origem política, potenciadas por um centralismo retrógrado que já não faz qualquer sentido em países moderno. Totalmente de acordo.
Onde discordo, consigo e com outros portistas, é na desconfiança quanto ao Bruno. Mas vamos por partes.
O Porto Canal é, pelo menos em tese, uma mais-valia para todos nós, homens e mulheres da Grande Área Metropolitana do Porto, enquanto espaço de afirmação local e regional, enquanto alavanca para a criação de um nicho de mercado do audiovisual na nossa terra e enquanto espaço “nosso”. O Bruno Carvalho acreditou e arriscou quando outros se limitaram a vaticinar a impossibilidade de criar algo deste género. O Bruno é benfiquista? É, demonstrando que não é perfeito. Aliás, estou-me marimbando para o facto de ele ser benfiquista. Seria bem melhor que fosse Portista? Claro que sim, sem sombra de dúvida. Valha-nos um ponto a favor: ele é regionalista. A sua candidatura vai ter um enorme mérito, o dissipar das dúvidas que ele possa ter quanto a um dado insofismável: o centralismo não tolera ninguém daqui e, por isso mesmo, a sua aventura está condenada ao fracasso – ainda bem para ele e para nós. Para ele será óptimo na medida em que vai, estou certo, reforçar a sua veia regionalista. Para nós, também, pois ele seria um excelente dirigente e assim o slb continuará entregue àquela gente.
Quando eu escrevo que o Rui Valente aponta ao alvo errado não o faço de forma depreciativa. Procuro, isso sim, sublinhar que não é esse o perigo do Porto Canal. E são muitos, a meu ver, os perigos que corre o Porto Canal. O principal deles está exactamente no nosso seio e chama-se tecido empresarial local. Que, salvo honrosas excepções, ignora olimpicamente o Porto Canal. E aqui entra um exemplo prático que conheço bem.
Quando a autarquia da Maia decidiu incluir o Porto Canal no seu portfólio de investimento publicitário foram várias as resistências. Uma pergunta era recorrente: “Quem vê isso?”. Hoje, passado quase um ano, praticamente todos os cépticos de outrora mudaram de ideias. O chamado “feedback” foi bem maior do que esperavam e agora a pergunta passou a ser outra: “O Porto Canal não está presente?”.
Afirma o Rui Valente:
“Para mim, continua a ser um mistério o distanciamento patenteado pelos grandes empresários do Norte relativamente a projectos de televisão, e nem o receio de provocar susceptibilidades junto dos centros de decisão, o explicam. Se a explicação for mesmo essa, então, é sem dúvida o maior atestado de cobardia e de ausência de noção de cidadania que passam, a si próprios”.
Ora, o verdadeiro problema do Porto Canal está nesse distanciamento. Que não se deve, na sua maioria, a qualquer “receio de ferir susceptibilidades junto dos centros de decisão”. Não, não é por aí. É mesmo a velha bacoquice. Julgam que “é parolo” publicitar no Porto Canal, continuam a julgar que o vizinho não vê e a prima não comenta. Repare, quantos não conhece o Rui que fazem gala em afirmar não verem o Porto Canal com a mesma rapidez com que afirmam que os programas são maus e os apresentadores medíocres? Boa parte dos nossos empresários preferem colocar publicidade nos canais nacionais, matarem-se por um convite para a festa da Caras, suspirarem por uma entrada no Sasha da praia da Rocha. Não percebem a importância de ter um canal de televisão “nosso” e forte. Como afirmou José Freitas na minha caixa de comentários:
“Mais que os poderes públicos ou empresas nacionais participadas pelo Estado, é importante saber onde andam alguns empresários. Sobretudo aqueles que 'reivindicam' meios regionais de comunicação televisiva. Gritam, agitam os braços, recomendam o envolvimento da famosa 'sociedade civil' em prol de um projecto. Quando ele existe passam a olhar para o lado, assobiam alegremente como se nada fosse com eles. Assim, o Norte não vai lá”.É este o alvo de que falo, caro Rui Valente. É este o verdadeiro problema do Porto Canal. O Bruno ser benfiquista e candidato a presidente da lampionagem dou de barato – pelo menos a maioria dos jornalistas, a começar pelo ilustre Director de Informação, são tão portistas e regionalistas como eu ou você.
E quando falo do tecido empresaria, falo também dos chamados “opinion makers” da nossa terra que preferem ser comentadores das nacionais ou da “N” do que do Porto Canal. Também eles, à sua medida, contribuem para este estado do sítio. Mas a prosa já vai longa e esta parte fica para segundas núpcias.
Termino reafirmando, uma vez mais, que concordo consigo em mais de 90% do que escreve.
Só não abdico de um ponto, com o qual, provavelmente, concorda: a culpa do estado em que estamos é, sobretudo, nossa e não de Lisboa. Somos nós que não queremos assumir as nossas responsabilidades e tomar nas nossas mãos o nosso destino.
Saudações Portistas e Regionalistas.