segunda-feira, 11 de maio de 2009

Turquia:


A propósito da visita do Presidente da República à Turquia vou ressuscitar uma posta que coloquei em tempos na blogosfera sobre a pátria de Ataturk - foi a 14 de Maio de 2007 e como resposta a um Amigo. Por acaso desconheço a posição do nosso PR sobre a matéria. Aliás, desde a sua célebre declaração aos portugueses sobre o Estatuto dos Açores pouco sei das suas opiniões sobre o que quer que seja.


Meu caro Amigo,


As últimas eleições francesas foram disputadas por dois candidatos, Segolenè Royal e Nicolas Sarkosy. A primeira representava a esquerda francesa e o segundo, a direita. Isto em termos muito simplistas pois, como bem sabes, Segolenè não representava assim tanto a esquerda socialista tradicionalista (que a detesta, profundamente, por a considerar demasiadamente liberal) nem Sarkosy representa certas franjas mais moderadas da direita francesa. Era o que tinham e a mais não estavam obrigados.

O Povo francês, de forma esmagadora, decidiu votar e com o seu voto fez uma escolha clara: Sarkosy. Como já escrevi antes, espero que não se arrependa. Entendo o voto francês: a insegurança que se vive nas grandes cidades francesas (que eu próprio sou testemunha no caso de Paris ou Marselha); o "papão" Europa provocado por aqueles que não querem respeitar o "Não" francês à Constituição Europeia e o desemprego crescente dos licenciados (lá como cá), sem esquecer alguma intolerância religiosa da comunidade Árabe residente em França. A tudo isto se soma a intranquilidade provocada por uma certa esquerda radical que não sabe respeitar a vontade da maioria - como, aliás, se viu posteriormente. Foi um voto profundamente "nacional". O que se entende.Contudo, desconfio muito das intenções de Sarkosy.

Desde logo, porque entendo que violência gera mais violência e não resolve problemas de segurança. Temo que se resvale da "força da autoridade" para a prática do "autoritarismo". A seguir, não esqueço que Nicolas Sarkosy não nasceu ontem, esteve no governo francês nestes últimos anos - mais dedicado a cimentar uma posição forte como candidato da inevitabilidade do que a governar. Mas, mais grave, considero perigoso (no mínimo) a sua posição face a uma integração da Turquia na UE. Como bem sabes, Sarko, é completamente contra. O que, a meu ver, é uma estupidez e um erro trágico para a segurança da Europa e do Mundo.

Não sendo um "turcófilo", como se afirma Pacheco Pereira num lúcido artigo de opinião do Público (Sábado, 12 de Maio/2007), considero a Turquia como um país europeu. Mais, é fundamental para a Turquia e para todos nós, um forte apoio da Europa aos enormes movimentos "pró-europa" existentes nas classes intelectuais e nas elites turcas. Os povos Árabes sofrem às mãos de tiranos sem escrúpulos, refugiam-se no verdadeiro ópio do povo que é o fundamentalismo religioso (todo ele, seja qual for a crença) e vivem desgraçadamente - experimentem visitar um qualquer país árabe, mesmo aqueles aqui ao pé da porta como o Magrebe e facilmente compreendem esta minha afirmação, basta olhar-lhes nos olhos. Os povos Árabes só se vão libertar deste ofensivo colete-de-forças quando, tal como nós, tiverem acesso a liberdade de expressão. Quando conseguírem ter aquilo que nós temos e que nem sempre sabemos valorizar. Ora, a Turquia, não é apenas uma das portas da Europa, é também uma importante porta na Ásia e nos países Muçulmanos. Com o desenvolvimento económico que uma entrada na UE acarreta (como connosco antes e agora nos países do leste), a Turquia seria um motor de desenvolvimento e uma alavanca democrática para todo o Mundo Muçulmano. Sabes porquê, meu caro PJ, porque todos nós, queremos o melhor para os nossos filhos e os Árabes (como antes os Russos, pegando numa célebre canção de Sting) também amam os seus filhos.

É esta a tragédia de uma certa direita quando na mão dos "Sarkos" deste Mundo.Pode ser que eu esteja enganado. Deus queira.

Julgo que, agora, percebes melhor as minhas profundas reticências e até alguma rejeição a Sarkosy. A mesma que tenho para com certas franjas da nossa direita, agora entretidas com a "perseguição" aos estrangeiros que querem vir trabalhar para Portugal (cuja resposta dos Gatos Fedorentos foi absolutamente genial), que não entendem a importância desta força de trabalho e acréscimo cultural. Não entendem hoje, como ontem e nunca entenderão. É preciso conhecer Mundo, compreender a natureza humana e não confundir casos de polícia com problemas de segurança (que sempre existiram). Como não entenderam nem reconhecem a importância "dos de fora" na nossa epopeia dos descobrimentos - o período mais áureo da nossa história. Coincidência? Não me parece.

1 comentário:

Anónimo disse...

amigo Sá:

mais uma vez te quero dizer que os politicos ingleses tinham discursos parecidos com este nos anos 30 no que respeitava a um certo senhor chamado Hitler.

viu-se no que deu isso tudo.
nao sou favoravel a turquia como nação pos islamizada entre na comunidade europeia.

como posso aceitar ter comigo um estado laico, responsavel pelos maiores genocidios conhecidos (o dos armenios) e desconhecidos ( o dos gregos que viviam desde homero nas franjas do mar egeu), que naoaceita a responsabilidade desses actos ainda hoje.

sera criterio de ocidentalização o uso de telemovies e de idas ao mac donald?

sera criterio de ocidentalização o medo que a turquia se passe para o outro lado e seja qualquer coisa no mundo arabe?
turcos ? arabes ? nao sao a mesma coisa.....

acho que a europa começa a ter dirigentes que sabem o que foi e é sofrer debaixo de uma ditadura seja ela nos suburbios de uma Berlim soviética ou nas margens do Lago Ballaton.

nao concordo com a tua ideia nem posso concordar e nao permitam os deuses que alguma vez a tua ideia vença, ou pelo menos que seja daqui a 5o anos que ja ca nao estou.

de resto parabens pelo tricampeonato.

aquele abraço

pj