quarta-feira, 18 de março de 2009

Porto Canal - Alvo Errado 2

“Fernando Moreira de Sá, do blogue O Sinaleiro da Areosa, diz que aponto o alvo errado, mas deve ter-me lido pouco, senão não falava assim. Todas estas aberrações são de origem política, potenciadas por um centralismo retrógrado que já não faz qualquer sentido em países moderno”.


Caro Rui Valente,

Eu não posso estar mais de acordo consigo em 90% daquilo que afirma. Em especial, quando refere: Todas estas aberrações são de origem política, potenciadas por um centralismo retrógrado que já não faz qualquer sentido em países moderno. Totalmente de acordo.

Onde discordo, consigo e com outros portistas, é na desconfiança quanto ao Bruno. Mas vamos por partes.

O Porto Canal é, pelo menos em tese, uma mais-valia para todos nós, homens e mulheres da Grande Área Metropolitana do Porto, enquanto espaço de afirmação local e regional, enquanto alavanca para a criação de um nicho de mercado do audiovisual na nossa terra e enquanto espaço “nosso”. O Bruno Carvalho acreditou e arriscou quando outros se limitaram a vaticinar a impossibilidade de criar algo deste género. O Bruno é benfiquista? É, demonstrando que não é perfeito. Aliás, estou-me marimbando para o facto de ele ser benfiquista. Seria bem melhor que fosse Portista? Claro que sim, sem sombra de dúvida. Valha-nos um ponto a favor: ele é regionalista. A sua candidatura vai ter um enorme mérito, o dissipar das dúvidas que ele possa ter quanto a um dado insofismável: o centralismo não tolera ninguém daqui e, por isso mesmo, a sua aventura está condenada ao fracasso – ainda bem para ele e para nós. Para ele será óptimo na medida em que vai, estou certo, reforçar a sua veia regionalista. Para nós, também, pois ele seria um excelente dirigente e assim o slb continuará entregue àquela gente.

Quando eu escrevo que o Rui Valente aponta ao alvo errado não o faço de forma depreciativa. Procuro, isso sim, sublinhar que não é esse o perigo do Porto Canal. E são muitos, a meu ver, os perigos que corre o Porto Canal. O principal deles está exactamente no nosso seio e chama-se tecido empresarial local. Que, salvo honrosas excepções, ignora olimpicamente o Porto Canal. E aqui entra um exemplo prático que conheço bem.
Quando a autarquia da Maia decidiu incluir o Porto Canal no seu portfólio de investimento publicitário foram várias as resistências. Uma pergunta era recorrente: “Quem vê isso?”. Hoje, passado quase um ano, praticamente todos os cépticos de outrora mudaram de ideias. O chamado “feedback” foi bem maior do que esperavam e agora a pergunta passou a ser outra: “O Porto Canal não está presente?”.


Afirma o Rui Valente:

“Para mim, continua a ser um mistério o distanciamento patenteado pelos grandes empresários do Norte relativamente a projectos de televisão, e nem o receio de provocar susceptibilidades junto dos centros de decisão, o explicam. Se a explicação for mesmo essa, então, é sem dúvida o maior atestado de cobardia e de ausência de noção de cidadania que passam, a si próprios”.


Ora, o verdadeiro problema do Porto Canal está nesse distanciamento. Que não se deve, na sua maioria, a qualquer “receio de ferir susceptibilidades junto dos centros de decisão”. Não, não é por aí. É mesmo a velha bacoquice. Julgam que “é parolo” publicitar no Porto Canal, continuam a julgar que o vizinho não vê e a prima não comenta. Repare, quantos não conhece o Rui que fazem gala em afirmar não verem o Porto Canal com a mesma rapidez com que afirmam que os programas são maus e os apresentadores medíocres? Boa parte dos nossos empresários preferem colocar publicidade nos canais nacionais, matarem-se por um convite para a festa da Caras, suspirarem por uma entrada no Sasha da praia da Rocha. Não percebem a importância de ter um canal de televisão “nosso” e forte. Como afirmou José Freitas na minha caixa de comentários:

“Mais que os poderes públicos ou empresas nacionais participadas pelo Estado, é importante saber onde andam alguns empresários. Sobretudo aqueles que 'reivindicam' meios regionais de comunicação televisiva. Gritam, agitam os braços, recomendam o envolvimento da famosa 'sociedade civil' em prol de um projecto. Quando ele existe passam a olhar para o lado, assobiam alegremente como se nada fosse com eles. Assim, o Norte não vai lá”.

É este o alvo de que falo, caro Rui Valente. É este o verdadeiro problema do Porto Canal. O Bruno ser benfiquista e candidato a presidente da lampionagem dou de barato – pelo menos a maioria dos jornalistas, a começar pelo ilustre Director de Informação, são tão portistas e regionalistas como eu ou você.

E quando falo do tecido empresaria, falo também dos chamados “opinion makers” da nossa terra que preferem ser comentadores das nacionais ou da “N” do que do Porto Canal. Também eles, à sua medida, contribuem para este estado do sítio. Mas a prosa já vai longa e esta parte fica para segundas núpcias.

Termino reafirmando, uma vez mais, que concordo consigo em mais de 90% do que escreve.
Só não abdico de um ponto, com o qual, provavelmente, concorda: a culpa do estado em que estamos é, sobretudo, nossa e não de Lisboa. Somos nós que não queremos assumir as nossas responsabilidades e tomar nas nossas mãos o nosso destino.
Saudações Portistas e Regionalistas.

10 comentários:

Rui Valente disse...

Caro Fernado Sá

Estamos esclarecidos. Quase...
Quero apenas destacar 2 pontos:

a)- Eu elogiei o trabalho e a seriedade do Bruno Carvalho, mas manifestei apenas receio que uma segunda versão da NTV possa repetir-se. Não foi o Bruno que dirigiu a NTV? E então, o que é que aconteceu a seguir?

b)- Discordo do meu amigo quando diz que a culpa da situação em que estamos é, sobretudo nossa, e não de Lisboa. Então explique-me:
se tanto o Fernando como eu, fazemos os mesmo diagnósticos, se somos contra esse tipo de procedimentos que retratou, como podemos ser também culpados? Não haverá algo de masoquista nestas conclusões?

Quando digo Lisboa, digo-o porque é lá que está o todo o poder, um poder tão concentrado que faz com que Salazar hoje pareça um menino de coro! Lisboa, quer gostemos ou não, simboliza o centralismo. Não tenhamos receio de o dizer.

Saudações portistas, regionalistas e mais alguma coisa... se for necessário.

brmf disse...

Esta discussão, de ambos os lados, parte de pressupostos errados. O Porto não é o FC Porto. Sou benfiquista com muito orgulho e portuense com o mesmo orgulho.

Afinal, estamos a falar de televisão ou de futebol?

FMSá disse...

Rui V.: Obrigado pelas palavras e aqui fica o esclarecimento:
Quando digo "nossa" digo de todos aqueles que partilham território e que em nada contribuem para a sua afirmação regional, servindo até de entrave a tal. Quanto ao mais, de acordo.

Caro BRMF, estamos a falar de televisão e regionalização. O F.C.Porto é parte, enquanto instituição de referência da região.

Um abraço.

Rui Valente disse...

Mas há uma pequena grande diferença,caro brmf:

quando o FCPorto joga com o Benfica, você, quer queira ou não, está com o coração pregado em símbolos que nada têm a ver com o Porto, enquanto os portistas, continuam "amarrados" à sua cidade. Orgulhosamente, e mais...

brmf disse...

Caros FMS e Rui Valente,

"O F.C.Porto é parte, enquanto instituição de referência da região."

"quando o FCPorto joga com o Benfica, você, quer queira ou não, está com o coração pregado em símbolos que nada têm a ver com o Porto"

Não percebo. A igreja católica é uma instituição de referência de Portugal (e não só) e eu não me preciso de rever nela, nem sequer ter o minimo de respeito por ela, certo?

Desculpem, mas nem sequer consigo perceber os argumentos discutidos por vós.

Agora um director de informação tem de ser do clube da terra?, como se escreve algures. O director de informação da RTP tem de ser católico só porque a maioria da população é católica?

É complicado de mais para a minha pobre cabeça...

Cumptos.

FMSá disse...

Não sejas mauzinho, BRMF. Ehehehehe.

Rui Valente disse...

Eu explico-lhe, BRMF.

Imagine um jogo internacional de futebol, um Portugal-Inglaterra, por exemplo.

Agora, imagine também, que você (ou eu, tanto faz),sendo português retinto (nascido e criado), vai para o Estádio e desata aos gritos a apoiar a Inglaterra (com bandeirinha e tudo).

Consideraria essa atitude tipicamente portuguesa, ou estranhamente british?

PS-A igreja tem os dias contados, já ninguém lhe liga, só mesmo você.

Saudações orgulhosamente tripeiras e portistas.

brmf disse...

Já que estão tão preocupados com as instituições do Porto e do Norte, cá fica uma notícia do símbolo do papão centralista (é isso, não é?): http://www.ojogo.pt/Directo/NoticiaHoraFutebolNacional_futboavistaslbjogoantecipado_200309_119891.asp

E olhe que eu estou-me perfeitamente a marimbar para o Boavista! Dou tanto valor ao Boavista como ao Carcavelinhos.

Cumptos.

brmf disse...

Já que estão tão preocupados com as instituições do Porto e do Norte, cá fica uma notícia do símbolo do papão centralista (é isso, não é?): http://www.ojogo.pt/Directo/NoticiaHoraFutebolNacional_futboavistaslbjogoantecipado_200309_119891.asp

E olhe que eu estou-me perfeitamente a marimbar para o Boavista! Dou tanto valor ao Boavista como ao Carcavelinhos.

Cumptos.

Rui Valente disse...

Já eu não estou a marimbar-me para o Boavista, está a ver.Exactamente porque sou tripeiro e portista.

Já o Benfica, esse é que não me diz absolutamente nada. Ou melhor, diz. Detesto-o.

E não posso aqui dizer-lhe porquê, porque correria o risco de transformar o comentário num longo e (para si) aborrecido livro.

PS- Eu não gosto do Benfica, mas respeito-o a si, amigo.

Saudações tripeiraS